Diz a lenda que na tribo dos Tupiniquins havia um grande cacique chamado Peroibe. Sua valentia era conhecida e a sua terra era respeitada por todas as tribos ao redor. Um dia, quando Peroibe caçava com seus guerreiros, ao perseguirem um veado chegaram numa fonte de águas cristalinas. Como estavam cansados, em decorrência do esforço da caça, beberam a água do local e, de repente, o cansaço sumiu e o vigor se estabeleceu novamente nos corpos dos guerreiros. Retornaram para a aldeia, contando para a tribo a descoberta da fonte de água milagrosa. Foram as mulheres as que mais se serviram das águas da fonte, que as mantinham jovens e belas. Elas já eram famosas pela pele macia e sedosa, em conseqüência do uso da lama negra que espalhavam no corpo. Mas a descoberta da fonte fez com que as moças de outras tribos sonhassem com o uso da lama e da água milagrosa.
Juréia, filha única do cacique Pogoça, da tribo dos Carijós da região de Igua, soube da descoberta e, ao pegar o caminho da praia de areia fina, chegou na região dos Tupiniquins, alcançou a fonte e mergulhou em suas águas. O cansaço sumiu e o corpo de Juréia vibrou ao sentir uma corrente de energia.
Peroibe, que estava descansando na clareira a poucos metros da fonte, ouviu o barulho das águas e virou-se lentamente para a fonte. Viu o rosto e o corpo de Juréia emergir das águas e, como que enfeitiçado, ficou imóvel e atônico. Juréia olhou e viu a figura imóvel e extasiada de Peroibe. Pensando tratar-se de um deus saiu da água e desapareceu pela trilha nas matas. Peroibe imóvel, estava confuso sem saber se a imagem que via era real ou fantasia e ligeiro entrou na mata à procura de Juréia.
Pogoça sentiu a falta da filha que há dias não dava sinal de vida. Quando ela apareceu quis saber onde teria ido. Sabendo da verdade, enfureceu-se e, com a ajuda dos pajés, enclausurou Juréia na caverna da Itabirapuã (pedra em pé redonda), para que ela pudesse ser vigiada. A porta de pedra fechou-se para sempre, por medo de que o deus que a filha havia visto, tentasse roubá-la.
Peroibe em vão vasculhou todas as matas. Cansado e esgotado, entrou em tristeza profunda, negando-se a comer e a beber a água da fonte que os pajés lhe traziam.
Os pajés reuniram-se em conselho, resolvendo evocar o deus sol para pedir ajuda. Este, atendendo ao pedido, transformou Peroibe em uma rocha, para que o deus tempo não o transformasse, até que sua amada voltasse novamente.
Juréia, enclausurada, chorava e evocava a deusa lua, sua protetora, para que a ajudasse a reencontrar seu amado deus. Esta entristeceu-se e, cheia de compaixão, transformou-a em uma bola de fogo.
Segundo a lenda em algumas noites Juréia sai de sua prisão, percorrendo os sambaquis em busca do seu amado. No dia em que o encontrar petrificado, o despertará do sono eterno com seu calor, então a porta do Pogoçá se abrirá, libertando-a para os dois se unirem. Nesse dia renascerá a raça perdida dos bravos Tupiniquins.